Dificuldades e sucessos do primeiro polo empresarial de Economia de Comunhão no Brasil
por Thiago Borges
do Relatório EdC 2016, sobre a "Economia de Comunhão - uma nova cultura"
O Polo Spartaco nasceu em 1993 perto da Mariápolis Ginetta, a cidadezinha do Movimento dos Focolares, localizado a 50 km de São Paulo, como a primeira evidência concreta de uma economia vivendo com o paradigma da comunhão. Foram instaladas empresas de diferentes ramos, mas todas comandadas por empresários convictos de que para resgatar os menos favorecidos de sua vulnerabilidade (mesmo motivo pelo qual nasceu o polo), apenas o assistencialismo não é suficiente. Em vez disso, eles devem envolvê-los, tornando-os protagonistas das relações econômicas.
Este é o espírito que animou a primeira empresa que se instalou no Polo, a La Tunica. Foi fundada por Maria do Carmo Gaspar e Maria Aparecida Viegas: a primeira, uma viúva e mãe de cinco filhos, e que pela sua afeição a Chiara Lubich (fundadora do Movimento dos Focolares) e a Economia de Comunhãose dedicou ao setor de vestuário; já Maria Aparecida tinha duas máquinas de costura, que colocou à disposição, junto com a sua experiência como costureira.
Além da equipe de profissionais que as sócias chamaram para trabalhar, também começaram a fazer parte da nova empresa várias mães de famílias da comunidade carente vizinha: uma verdadeira ação de resgate social, o que permitiu a essas mulheres não só trabalhar, mas também de adquirir uma profissão e, consequentemente, uma independência econômica.
Mais tarde, se instalaram outras empresas de produção: a Rotogine, criada por François Neveux (empresário francês especialista em grandes artefatos de plástico e tecnologias ambientais); a Eco-Ar, produtos de limpeza, iniciada por Ercilia Fiorelli num porão e, em seguida, transferida para o pólo; a AVN Embalagens Plásticas, do empreendedor de máquinas de construção de São Paulo, Augusto Lima Neto. Junto a essas empresas, outras duas foram instaladas pelos empresários Armando e Roseli Tortelli, uma delas é a Prodiet Farmacêutica de distribuição de produtos farmacêuticos e a outra de serviço de financiamentos, a Uniben Fomento Mercantil.
Para construir e gerenciar o Polo, foi constituída uma sociedade para as empresas, a Espri SA, a qual aderiram cerca de quatro mil sócios de todos os ramos. “Somos pobres, mas muitos”, disse Chiara Lubich convidando a todos para reunir recursos para construir um “laboratório de economia de comunhão”: muitos aderiram com entusiasmo e generosidade.
Em 2005 nasceu a Associação de Trabalhadores do Polo: Além dos benefícios oferecidos aos associados, tais como micro crédito e descontos em lojas na região, a associação proporciona um lugar de compreensão mútua, útil para criar ocasiões de comunhão.
A mais nova a chegar
Pasticcino é a mais recente empresa a se instalar no Polo, cinco meses atrás. Especializada na produção de alimentos para lanchonetes, a empresa é a "filial brasileira" de uma que opera com sucesso no Polo da EdC Solidaridad, na Argentina. Com seus cinco funcionários, a empresa deu seus primeiros passos no Brasil enfrentando os desafios da chegada, o ajuste da produção, a abertura dos mercados, a formação profissional. "A Pasticcino se distingue de outras empresas do setor por causa do seu modo de construir relacionamentos entre os funcionários, clientes e fornecedores”, diz o diretor, Flávio Toledo. “Entre nós existe uma grande liberdade e amizade; somos todos diferentes e, às vezes, acontece algum atrito, mas nós sempre tentamos resolver os problemas antes que se tornem grandes, com base de que é mais fácil trabalhar quando se tem uma boa convivência. Convém, no entanto, realmente se empenhar para construir esses relacionamentos”.
Um novo agir econômico
A partir da experiência da Uniben, há dois anos, nasceu uma empresa para o setor de seguradora, a Uniben Corretor de Seguros, que busca construir com cada cliente uma atmosfera de confiança e transparência. “É uma boa experiência, especialmente nas relações, porque a comissão que remunera o nosso trabalho depende do preço das apólices de seguros: quanto mais caro o seguro, mais ela aumenta a nossa comissão. Assim, oferecer ao cliente a solução mais vantajosa para ele, embora nossa renda diminua, pode parecer uma má estratégia. Ainda estamos começando a colher os frutos dessa forma de agir, por meio da fidelização de clientes e novas oportunidades de negócios”, explica Mariela Francischinelli. O volume de negócio cresce 15% ao mês. Após dois anos de operação, a empresa alcançou o equilíbrio econômico, tendo em vista os investimentos iniciais.
Morte e ressurreição
Nos últimos anos, o desempenho econômico de algumas empresas do Polo piorou e as suas dificuldades financeiras também afetaram o resultado de Espri, porque eles não têm conseguido pagar o aluguel. Surgiram novos desafios para o futuro do Polo. Para lidar com isso foi necessária uma maior comunhão entre os empresários: a Uniben decidiu expandir o seu negócio, oferecendo para as empresas em dificuldade, a comunhão pura, além de serviços financeiros também as suas próprias habilidades na gestão, com bons resultados.
Um grupo de peritos, que já teve vários contatos com a EdC, ofereceu-se para examinar a gestão da Espri e sugeriu novas estratégias: os empresários com atividades no Polo se comprometeram a fortalecer a comunhão entre eles, com a certeza de que, se o sucesso ou não de suas empresas estava ligado às circunstâncias, a comunhão deve permanecer. Em 2016, a trajetória de consolidação orçamental dos negócios tem permitido a melhoria também dos resultados da Espri.
Os propósitos para o futuro são muitos: promover novos negócios na cultura daEdC, fortalecer os processos de formação de uma cultura da partilha, intensificar a comunhão entre todos. Objetivos importantes, mas atingíveis apenas se suportado por uma vida de comunhão.